quarta-feira, 26 de março de 2014

CINE HISTÓRIA ESPECIAL: GLAUBER ROCHA DOSE DUPLA


Olá caros leitores, tudo bem com vocês?


Hoje iremos trabalhar com dois filmes clássicos do diretor Glauber Rocha, um dos maiores ícones do cinema brasileiro, fazendo sinopse de cada um deles, finalizando com um comentário, mostrando o que tem em comum os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, suas duas obras primas, confiram:

FICHAS TÉCNICAS

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL


Título Original Deus e o Diabo na Terra do Sol
Duração: 125 min.
Ano: 1964
Diretor: Glauber Rocha
País: Brasil
Idiomas disponíveis e legendas: Português
Gênero: Aventura/ Épico/ Drama Social
Temática: Conflitos Sociais na Velha República/ Coronelismo/ Cangaço/ Messianismo

SINOPSE (Fonte: Adoro Cinema)

Manuel (Geraldo Del Rey) é um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes (Mílton Roda) e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa Rosa (Yoná Magalhães). O casal se junta aos seguidores do beato Sebastião (Lídio Silva), que promete o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Porém ao presenciar a morte de uma criança Rosa mata o beato. Simultaneamente Antônio das Mortes (Maurício do Valle), um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina os seguidores do beato.

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO



Título Original O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro 
Duração: 100 min.
Ano: 1969
Diretor: Glauber Rocha
País: Brasil
Idiomas disponíveis e legendas: Português
Gênero: Aventura/ Épico/ Drama Social
Temática: Conflitos Sociais na Ditadura Militar/ Coronelismo/ Cangaço/ Messianismo

SINOPSE (Fonte: Interfilmes)

Antônio das Mortes é contratado para matar um bando de jagunços numa pequena vila. Lá, encontra um coronel com delírios de grandeza, um professor desiludido, um delegado com ambições políticas, um padre em crise mística e uma mulher solitária.

COMENTÁRIOS


Duas grandes obras-primas do cinema nacional, realizada por Glauber Rocha na década de 60, dispensam apresentações, devido a grande valor simbólico e contribuição significativa para a construção do atual momento em que vive o cinema brasileiro, e também a denunciar os males que a sociedade brasileira vivia naqueles tempos de Ditadura Militar.
 Sendo o segundo uma continuação do primeiro, o que muda além de um ser filmado em preto e branco o outro colorido, são as ambientações das tramas. Enquanto Deus e o Diabo na Terra do Sol se passa nos anos 30, durante a chamada República Velha e  O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro é ambientado na época em que foi feito o filme, mas ambos mostram os problemas político-sociais de suas respectivas épocas, porém direcionadas ao governo militar.
 Misturando elementos das escolas cinematográficas do neo-realismo, cinema político soviético e do western spaghetti com ópera, cultura genuinamente brasileira, literatura de cordel e clássica e realidade sócio-política do país, Glauber apresentou um Brasil recheado de desigualdades sociais, mas rico em crenças, costumes e cultura, especialmente o sertão nordestino, povoado por pessoas oprimidas, coronéis malvados, cangaceiros, profetas messiânicos que anunciam a vinda de um reino de paz e sem males, pessoas iludidas com a vida, jagunços  e assassinos profissionais, como Antônio das Mortes.
 Interpretado com maestria pelo ator Maurício do Valle, o personagem Antônio das Mortes é uma figura sombria, assustadora e impiedosa, sempre vestido com roupa de vaqueiro, chapéu, armado de facão e de seu inseparável rifle, virou um dos personagens mais conhecidos do nosso cinema. Inspirado no cordel e nos faroestes feitos na Itália, especialmente no personagem Django, interpretado em diversos filmes por Franco Nero, Antônio das Mortes é um assassino profissional, conhecido por matar cangaceiros ou pessoas que desafiam as autoridades, que faz o serviço sem reclamar e sem defender ideal, mesmo das pessoas que o contratam. Enquanto no primeiro filme ele é encarregado de destruir um movimento messiânico e com o bando do famoso cangaceiro Corisco; no segundo ele acaba se unindo a um povoado que é oprimido por um coronel, refletindo tudo o que fez em vida.
 A presença de cangaceiros demonstra bem a situação de miséria do povo do interior brasileiro, que sendo massacrado pelas desigualdades sociais, pela desilusões da vida, acabam aderindo ao banditismo, mesmo sabendo dos riscos que estão correndo, como uma espécie de fuga da realidade. Tanto em Deus e o Diabo como O Dragão da Maldade apresentam cangaceiros que são bandidos, mas porém tem senso de justiça e acreditam serem salvadores e santos.
 Em contramão do cangaço, os profetas messiânicos aparecem como uma espécie de fuga da situação de exploração vivida pelos camponeses, aonde multidões se reúnem ao seu redor para ouvir suas palavras, acabam se tornando fiéis, desafiando as autoridades religiosas, militares e políticas. Há uma passagem em Deus e o Diabo que faz referências diretas as pregações de Antônio Conselheiro e o massacre da cidade de Canudos, ocorridas exatamente ocorrido no período a República velha. 
 Já os coronéis, fazendeiros, militares e políticos, são retratadas como figuras mesquinhas e repugnantes, que pensam em si mesmo, só pensam em mandar; escravizam as pessoas e as reprimem se elas se rebelaram; acreditam ser justas e cometem crimes bárbaros, mas na verdade são iludidas e fracassadas. Nos dois filmes fazem muitas alusões nos diálogos sobre as práticas de torturas apoiadas por esses grupos na ditadura militar, que estava apenas no inicio quando esses  filmes foram rodados e lançados.
 Aproveitando bastante da tradição do cordel, do repente e dos ritmos musicais do nordeste, Glauber Rocha junto com Sérgio Ricardo e outros músicos consagrados, compôs toda a trilha sonora dos dois filmes, que se sincronizam perfeitamente com as imagens do sertão, sendo comparados com verdadeiras óperas. Aproveitando de todas as manifestações religiosas e culturais que existem no país, Glauber usou elementos vindos do europeu, índio e africano, apresentando o processo de miscigenação do povo brasileiro, não só nesses dois filmes, mas em toda sua obra.
 Tanto aqui em terras brasileiras como no mundo inteiro, essas duas jóias do cinema brasileiro vem influenciando há mais de 4 décadas diversos cineastas, tornando sua obra imortal e de forte em influência. Há quem que se não fosse Glauber Rocha existir ou tivesse não realizado filmes como Deus e o Diabo na Terra do sol e o Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, não existiria o cinema social e engajado politicamente no Brasil. Acredito que essa seja o grande legado de Glauber a cultura brasileira, de nos fazer refletir sobre nossa situação e fazer mudanças.
  Escrever sobre qualquer filme ou a vida de Glauber Rocha é um grande desafio, há muitas interpretações de sua obra, que torna difícil escolher as mais interessantes, assumo que tentei analisar os detalhes mais significativos desses dois filmes, que aparentemente são iguais, mas recheados de significativos diferentes. para quem quiser conhecer mais, recomendo acessarem o site do projeto criado por sua família após sua morte, o TEMPO GLAUBER aonde tem detalhes preciosos sobre sua obra, os projetos de restauração de seus filmes e a divulgação daquilo que ele ele criou, tanto filmes, como livros, poemas, gravuras e muito mais, vale a pena conhecer. Abaixo confiram essas duas obras-primas do cinema brasileiro

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964)



O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO (1969)



 Um grande abraço, BOA SESSÃO  até a próxima.

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