quarta-feira, 30 de março de 2016

INFORMATIVO ESPECIAL: A HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO


Olá caros leitores, tudo bem com vocês? Para homenagear o cinema brasileiro, o Blog do Professor Andrio tem a honra de contar um pouco da História do cinema nacional. A base do texto abaixo é o segundo capítulo de minha monografia de graduação de História, com algumas pequenas modificações. No final terá a bibliografia utilizada por mim, para quem quiser saber um pouco mais, um grande abraço e até a próxima.

A HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO

Diferentemente de outras inovações tecnológicas realizadas na Europa, o cinematografo, segundo Cunha (1979, p. 04), “chegaria cerca de seis meses após a estréia parisiense”. Mas somente em 19 de junho de 1898, um cinegrafista italiano chamado Alfonso Segreto filma a entrada da baia de Guanabara dentro de um navio, iniciando assim as atividades cinematográficas no Brasil, mas esse filme jamais foi exibido publicamente. Por esse motivo, data ficou conhecida como Dia do Cinema Brasileiro.
Nos primeiros anos, foi complicada a implantação do cinema no Brasil, devido a precariedade da distribuição de energia elétrica nas cidades. Somente em 1907, com a inauguração da usina de Ribeirão das Lages, dezenas de salas de cinema foram abertas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, e conseqüentemente, facilitou o inicio da produção de filmes em nosso país. Inspirados nos documentaristas franceses, os primeiros cineastas brasileiros preocupavam-se em mostrar as belezas naturais do país, cenas do cotidiano e aspectos culturais tipicamente brasileiros, fazendo curtas-metragens, que ficaram conhecidos como cinejornais, sendo um dos primeiros gêneros fílmicos populares no Brasil. Segundo Bernardet (2009, p 37-38), “um levantamento da exibição cinematográfica em São Paulo até 1935 indica que nada menos de 51 jornais cinematográficos brasileiros aparecerem nas telas paulistas nesse período”.
Além de documentários, surgiram cineastas que realizaram os primeiros filmes de ficção, mesmo com a comercialização de filmes estrangeiros no Brasil, tendo uma promissora produção nacional. A principal temática dessas produções era baseada especialmente nos casos policiais da época, inclusive Os estranguladores, filmado por Antônio Leal em 1908, foram exibidos mais de 800 vezes, sendo o primeiro filme de ficção feito no Brasil.
Entre 1908 e 1911, no Rio de Janeiro, forma-se um centro de produção de filmes em curta-metragem, que produzem além de filmes policiais, melodramas, épicos patrióticos, religiosos e até carnavalescos. A maior parte dessa produção é feita por Antônio Leal e José Labanca, no estúdio Photo Cinematographia Brasileira, mas com a concorrência estrangeira, essa produção decai bastante nos anos seguintes, conseqüentemente muitos cineastas abandonam a profissão, seguindo outras atividades profissionais, mas outros acabam produzindo documentários por encomenda, que ficou conhecido como cinema de cavação. Nesse período, segundo Bernardet (2009, p. 40), “a produção cinematográfica brasileira assenta-se em documentário exclusivamente ligado a uma elite mundana, financeira, política, militar, eclesiástica, de que os cineastas são dependentes”.
Em contrapartida, Luiz Barros (Perdida), José Medina (Exemplo Regenerador) e Francisco Santos (Crime dos banhados) foram cineastas que se manifestaram isoladamente a favor de produzir filmes de ficção. Mas a partir de 1915, surgiram filmes inspirados na literatura romântica brasileira, especialmente Iracema, O Guarani, A Moreninha e Inocência. Destaca-se o italiano Vittorio Capellaro, que produz muitos filmes dessa temática.
Ao mesmo tempo, Cristóvão Guilherme Auler e Francisco Serrador realizam os chamados filmes cantados. Esses filmes, segundo Cunha (1979, p. 06), “os artistas eram filmados a cantar trechos musicais conhecidos e depois tinham de se esconder atrás da tela, repetindo a cantoria e dando impressão de que suas vozes partiam da imagem projetada”. Desse gênero, o filme Paz e amor (1910), dirigido por Alberto Botelho, se destaca, por ser o primeiro filme a dar destaque as figuras e acontecimentos históricos da época. Mas em 1929, Luís de Barros lança o filme Acabaram-se os Otários, considerado o primeiro filme brasileiro sonorizado.

Na década de 1920, a produção cinematográfica, que antes se limitava as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, começava a se estender a outras regiões do Brasil, como o sul e o nordeste. Nessas produções, muitos cineastas retratavam a cultura e as estórias de suas respectivas regiões. No sul, Eduardo Abelim e Eugênio Kerrigan produzem Amor Redime (1926). No nordeste, os cineastas que se destacaram nessa época foram Edson Chagas e Gentil Roiz, que produziram filmes de caubói, como Retribuição Jurando sangue, ambos de 1925. Dentre os ciclos regionais, se destacou o da cidade mineira de Cataguases, aonde surgiu um dos primeiros grandes cineastas do cinema brasileiro, Humberto Mauro. Segundo Cunha (1979, p. 15), “cineasta de grande brasilidade, ele seria um elemento importante para a história do cinema nacional no que ficou conhecido como Ciclo de Cataguases”. Realizou filmes como Sangue mineiro (1929), Brasa Dormida (1927), e especialmente, O Descobrimento do Brasil (1937), um épico que retrata a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, totalmente inspirado na Carta de Pedro Vaz de Caminha.
Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, nos anos de 1930, inicia-se a industrialização no Brasil, havendo um forte sentimento de modernidade e patriotismo, refletindo inclusive nas artes e na cultura. No cinema, começa a ter uma produção sofisticada, surgindo inclusive grandes estúdios cinematográficos, inclusive a Cinédia, criada por Adhemar Gonzaga, na cidade do Rio de Janeiro. Lábios sem beijos, dirigido por Humberto Mauro, foi o primeiro filme da companhia. Já em 1933, Adhemar Gonzaga lançaria A Voz do carnaval, que elevaria ao estrelato Carmem Miranda. Através dela, lançaria atores cômicos como Oscarito e Grande Otelo nas comédias musicais Alô Alô Carnaval Onde estás felicidade. Essas comédias ficaram conhecidas como chanchadas, que nada mais eram filmes de baixo orçamento, feitos apenas para causar riso fácil, que tinham grande apelo popular e fazendo paródias as grandes produções de Hollywood. Após o lançamento de O Ébrio, em 1946, a Cinédia inicia uma grande crise financeira, fechando as portas cinco anos depois.
Em São Bernardo do Campo, Moacir Frenelon, Alinor Azevedo e José Carlos Burlem fundam a Atlândita, em 1941, estreando com o filme Moleque Tião, que daria a tônica da companhia, filmes com temáticas tipicamente brasileirasAs chanchadas também são os grandes destaques desse estúdio, tornando-o moda até meados da década de 1950, e promovente comediantes até hoje lembrados como Dercy Gonçalves, Zé Trindade, além de Oscarito e Grande Otelo.
Já em 1949, na cidade de São Paulo, surge um empreendimento grandioso, a Companhia Vera Cruz, que ao contrário dos outros estúdios brasileiros, realiza produções bem mais aprimoradas e exploram temáticas mais dramáticas e comédias mais elaboradas. Destaque para o comediante Mazzaropi que realiza filmes retratando a figura do caipira brasileiro, em filmes como Candinho, Jeca Tatu, Jeca Contra o capeta e Sai da Frente. Outro destaque da companhia, O Cangaceiro (1953), filme dirigido por Lima Barreto, foi, segundo Napolitano (2008, p. 20), “grande sucesso de bilheteria e vencedor do Festival de Cannes na categoria melhor filme de aventuras”. Mas em 1954, devido a grandes dividas, o estúdio acaba falindo, terminando assim o sonho da Hollywood brasileira. 
Contrariando os grandes estúdios brasileiros, que só produziam melodramas e comédias musicais, em meados dos anos de 1950 e inicio dos 1960, surge um grupo de jovens cineastas, que inspirados no neo-realismo italiano e na nouvelle vague francesa, realizando filmes que retratavam a realidade brasileira, usando do lema “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, que ficou conhecido como Cinema Novo. Esses cineastas, segundo Mascarello (2006, p. 290), “não queriam- nem poderiam- fazer filmes nos padrões do tradicional cinema narrativo de ‘qualidade’ americano em sua maioria, que o público brasileiro estava costumado a ver. O cinema que pretendiam fazer deveria ser ‘novo’ no conteúdo e na forma, pois seus novos temas exigiram também um novo modo de filmar”.  Nelson Pereira dos Santos (Como era gostoso meu francês, Vidas Secas), Carlos Diegues (Quilombo, Ganga Zumba) e Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma, O Padre e a moça), são os cineastas que marcam esse movimento.
Além desses citados, um deles merece destaque, tanta pela ousadia como pela criatividade, considerado o mentor intelectual do Cinema Novo, o baiano Glauber Rocha. Inspirado nos filmes de faroeste de John Ford e no cinema político europeu, fundindo elementos da cultura nordestina, literatura brasileira e realidade brasileira, criando épicos rurais que são considerados obras-primas como Deus e o Diabo na Terra do sol (1964) O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), filmes políticos como Terra em Transe (1967) ou sobre temas da cultura brasileira como Barravento (1961) e Idade da Terra (1980). Todos eles, porém, fazem críticas a situação político social do Brasil, inclusive em relação ao regime militar, ocorrido no ano de 1964.
  Inicialmente, a censura promovida pela ditadura afetava apenas o setor político, mas em 1968, com o Ato Institucional nº. 5 (AI-5), as artes em especial o cinema começaram a ser alvos dos censores. Inúmeros filmes sofreram alterações, alguns tiveram cenas cortadas ou foi completamente censurado, devido ter conteúdos políticos ou de natureza sexual.
Não se preocupando com o risco que corriam, cineastas retornando com a linguagem do Cinema Novo, rejeitando totalmente o comercialismo, indo de encontro com o povo e realizando obras de baixo orçamento, tendo temáticas sociais. O udigrudi também conhecido como Cinema Marginal, nascia sob a égide da rebeldia, e, segundo Ramos (1987, p. 30), “o clima é de completa impossibilidade de ação e de constante constrangimento de intenções em face de uma realidade bruta que se torna inacessível e excludente”. Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha), Júlio Bressane (Matou a família e foi ao cinema) e José Mojica, mais conhecido como Zé do Caixão, (Despertar das bestas) foram alguns dos nomes que marcariam esse movimento.
Paralelamente, outros diretores preocuparam-se em fazer filmes comercialmente vendáveis, mesmo com a forte censura. Nesse sentido, nasceu a pornochanchada, que nada mais era uma forma de comédia aonde sexo era tema favorito desses diretores. Esses filmes, segundo Napolitano (2008, p. 99), “eram produções muito baratas, feitas em estúdios improvisados, com atores e atrizes desconhecidos, a maioria deles sem talento dramático, mas com alguma beleza física”. Filmes como Toda Nudez será castigada, Ainda agarro essa vizinha A Viúva Virgem, são exemplos de pornochanchadas.
   Em meados dos anos 70, o cinema brasileiro começa a ser ajudado pela Empresa Brasileira de Filmes, a EMBRAFILMES, que foi criado pelo governo no intuito de financiar culturalmente a produção cinematográfica do Brasil. A Embrafilmes, segundo Napolitano (2008, p. 102), “tinha a função de ajudar na distribuição de filmes brasileiros e, com o tempo, passou a apoiar também a produção”. Muitas produções como Xica da Silva (1976) e Bye Bye Brasil (1979), de Carlos Diegues, Dona Flor e seus dois maridos (1977), de Bruno Barreto, são filmes que obtiveram sucesso e foram financiadas por essa empresa.
Com o fim do regime militar em 1985 e com a popularização das pornochanchadas e de filmes estrangeiros, a produção nacional entra num período de crise, que mesmo com as tentativas do Governo de financiar as produções, acabam acarretando o fim da Embrafilmes no inicio dos anos 1990, levando muitos diretores e atores, como Sônia Braga e Hector Babenco, a lançarem carreiras nos Estados Unidos e Europa. Mesmo assim, houve manifestações criativas nesse período em filmes como Pixote, Quilombo e O Homem da Capa Preta.
Com o fim da Embrafilmes, muitos cineastas não se conformaram com a crise em que o cinema brasileiro estava vivendo, foram atrás de recursos, contrariando a crença de que não se podiam fazer filmes de qualidade no Brasil. Mas com o surgimento do filme de Carla Camuratti, Carlota Joaquina (1995), deu inicio o período da retomada, fazendo com que a produção brasileira volta a realizar filmes de sucesso nacional e internacional, como Central do Brasil, Cidade de Deus, Olga, Tropa de Elite O Que é Isso Companheiro?, inclusive concorrendo a prêmios no exterior, em especial o Oscar.
 Atualmente, o cinema brasileiro está vivendo um momento de grandioso, a qualidade de imagem, som e estórias envolventes está atraindo milhares de pessoas aos cinemas para assistirem aos filmes nacionais, Se eu fosse VocêBesouro, Chico Xavier e o mais recente, Somos tão Jovens e Faroeste Caboclo, provam que aquela situação de precariedade e da falta de apoio popular ao cinema brasileiro está mudando, lotando salas de cinema onde esses filmes está sendo exibidos, concorrendo de igual para igual com os filmes hollywoodianos e de outras nacionalidades, dando sinais que finalmente o nosso cinema está caminhando no rumo certo.

BIBLIOGRAFIA

BERNARDET, Jean Claude. Cinema Brasileiro: Uma Proposta Para Uma História. 2ed. São Paulo. Editora Companhia das Letras, 2009.

_______________________. O Que É Cinema? Coleção Primeiros Passos Volume 12. São Paulo, Editora Circulo do Livro, 1994.

CUNHA, Wilson. Biblioteca Educação É Cultura Volume 5: Cinema. São Paulo, Editora Bloch, 1979.

MASCARELLO, Fernando. História do Cinema Mundial. Campinas, Editora Papirus, 2006.

NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: Utopia E Massificação (1950-1980). São Paulo, Editora Contexto, 2008.
____________________. Como Usar O Cinema Em Sala de Aula. São Paulo, Editora Contexto, 2006.

RAMOS, Fernão. O Cinema marginal. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.

SCHNEIDER, Steven Jay. 1001 Filmes Para Ver Antes De Morrer. São Paulo, Editora Sextante, 2009.

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