sábado, 26 de março de 2016

SRS ESPECIAL: HISTÓRIA CULTURAL DE SANTA ROSA DO SUL



Olá caros leitores, tudo bem com vocês?


 A História é uma área que permite termos uma visão aproximada daquilo que foi o passado de uma cidade, região, país e até mesmo do mundo, podendo ser ser feita pelo viés político, social, comportamental, mitológico, econômico, cultural e muitos outros, porém o mais usual é o factual, que nada mais é, um resumo de fatos importantes do lugar onde estudamos, por ser mais fácil de ser estudado.
 Em Santa Rosa do Sul, todos com toda certeza conhecem a História factual do munícipio, que está presente no site a prefeitura e nos informativos da AMESC. Hoje quero mostrar uma forma diferente de conhecer a História do munícipio, através da evolução cultural que aconteceu em Santa Roa do Sul desde a chegada dos primeiros índios até os dias de hoje, enfatizando mais a questão cultural. O informativo abaixo faz parte do Plano Municipal de Cultura, o qual ajudei a escrever e sou autor desse e de muitos outros informativos, espero que gostem, divulguem e abra a mente dos sul santarosenses e torço que outras formas de estudos históricos surjam.


HISTÓRIA CULTURAL DE SANTA ROSA DO SUL


     Santa Rosa do Sul antes da chegada dos europeus foi habitada por indígenas principalmente Guaranis (carijós), os quais tiveram contato diretamente com os imigrantes portugueses e espanhóis, gerando violentos e uma forte miscigenação cultural.
  Vindos de uma região também litorânea, as primeiras levas de luso-açorianos que vieram para o litoral de Santa Catarina a partir do ano 1748, tinham a intenção de ajudar na defesa dos territórios conquistados no litoral por Portugal e acabaram colonizando boa parte do sul do Brasil, inclusive a região do extremo sul catarinense, municípios como Sombrio, Araranguá e principalmente, Santa Rosa do Sul, foram no passado colonizado por açorianos ou por descendentes dos mesmos nascidos no Brasil.
  A herança luso-açoriana presente em nossos dias é vasta, ficando complicado enumerar todas de uma vez só, mas fácil de visualizar, basta olharmos ao nosso redor para podermos perceber a presença do povo açoriano em nossa cultura, seja no jeito de falar, costumes ou de fazer.
 Dentre a vasta herança cultural deixada pelos açorianos em Santa Rosa do Sul, além do linguajar típico, a forte religiosidade, as lendas, as benzedeiras, a culinária típica, a maneira de pescar, a pecuária e os revolucionários métodos agrícolas utilizados nas plantações, as manifestações do Terno de Reis, Boi de Mamão e Bandeira do Divino são bastantes presentes até nos dias de hoje, devido ao belo colorido, religiosidade e alegria, marcas registradas da açorianidade. Vamos conhecer um pouco de cada uma dessas manifestações.
 O Terno de Reis surgiu em Portugal e foi trazido ao Brasil no início de sua colonização pelos imigrantes açorianos e portugueses. Celebrada entre o dia 24 de dezembro ao dia 06 de janeiro (dia de Santos Reis), essa manifestação faz alusão ao nascimento de Jesus e a visita dos reis magos ao presépio em Belém, através de grupos de cantoria, alguns com danças e apresentações teatrais que vão de casa em casa anunciando o Natal.
 Em termos musicais, os instrumentos usados nas cantorias são praticamente os mesmos da música sertaneja: o violão, a viola, a gaita, tambor e o violino (conhecido também por rabeca), podendo variar de um grupo para o outro. Outra característica importante é a presença de um mestre, que é aquele responsável pela folia e pela criação dos versos, depois repetidos pelos foliões (coro), o qual há uma voz especial que dá todo tom acaipirado da cantoria: o típe, que faz o famoso e estridente “ai” no fim dos versos, podendo haver dois ou mais. 
 Oriundo das antigas tradições açorianas, O Boi de Mamão une cantoria, dança, folclore e teatro popular, contando a estória de Mateus e sua esposa Moreninha, que está grávida e sente desejo de comer o boi de estimação da família, então o animal é sacrificado, porém com a ajuda de uma benzedeira, o boi ressuscita, havendo uma grande festa , onde surgem personagens como o cavalinho, a cabra, macaco, ursos, a Maricota, a bernúncia (espécie de dragão) e tantos outros, variando de uma região para outra.
 A Bandeira do Divino é uma tradição comemorada de diversas maneiras, conforme a cultura de cada local. em Santa Catarina, essa tradição é muito presente e viva , inclusive no litoral sul, ocorrendo 50 dias após a Páscoa, em alusão ao dia de Pentecostes, data a qual segundo a tradição bíblica, o Espírito Santo desceu do céu sobre os apóstolos de Cristo, havendo muita cantoria, festejos, fogos e alegria, assemelhando com o Terno de Reis pelo tom acaipirado e ligado a religiosidade.
   Buscando refúgio e liberdade, os escravos começaram a povoar o território onde hoje são as comunidades de Novo Horizonte e Peroba a partir do século XIX, oriundos de fazendas do Rio Grande do Sul e de outras partes de Santa Catarina, formando uma grande comunidade Quilombola, a qual gerou inúmeros descendentes, espalhando-se por toda Santa Rosa do Sul, a qual se manteve unida, havendo por muitas décadas na igreja matriz a Festa de Nossa Senhora do Rosário, quando acontecia o famoso Baile dos Morenos, onde era freqüentado somente por afrodescendentes, marcando toda uma época, que infelizmente hoje não existe mais, além de acontecer um processo de miscigenação cultural no decorrer da passagem do tempo.
 A herança africana pode ser sentida em Santa Rosa do Sul mais nas comunidades do interior através da organização, da união, do gosto pela música, pela religiosidade e através de manifestações folclóricas como a Capoeira e do Maracatu, feitas pelas escolas e pelos projetos sociais, no intuito de trazer novamente a identidade afro para essas comunidades.
  Vindos da Europa infestada de guerras, fome e pobreza, os imigrantes italianos e alemães vieram para o munícipio na segunda metade do século XIX, deixando em sua herança cultural a religiosidade, a engenhosidade para trabalhar na agricultura, no jeito de falar e principalmente, na culinária típica com suas cucas, massas, vinhos e tantas outras iguarias deliciosas.
 Com a eclosão da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul no fim do século XIX, chegaram em Santa Rosa do Sul, que na época se chamava Morro das Mortes, muitas famílias de origem gaúcha, trazendo sua traições como de fazer churrasco, tomar chimarrão, andar de a cavalo, sua música e danças como o vanerão, chimarrita (de origem açoriana) e tantas outras.
  Nesse mesmo contexto, as famílias Teixeira da Rosa, Emerim e Souza, cujo nome dos três patriarcas era Alfredo, chegaram ao munícipio, ajudando no seu desenvolvimento, tanto que o lugar passou a ser chamado de Três Alfredos, iniciando uma lenta evolução urbana no munícipio, surgindo nessa época os primeiros centros de comércios, a capela a qual foi escolhida como padroeira Santa Rosa de Lima (1932) e a vila se passou a chamar de Santa Rosa, para posteriormente evoluir para distrito em meados da década de 50 e com o inicio a construção da BR 101 em meados da década de 1960.
  A questão cultural desse período até meados da década de 1970 foi bastante rica, principalmente para a juventude, aconteciam inúmeras domingueiras, bailes, brincadeiras de entrudes, serenatas, gincanas, festas juninas, Terno de Reis, rodeios, existia um cinema que pertencia a família Emerim e as festas dos padroeiros de cada comunidade, eram bastante apreciadas.
 Com a evolução urbana, também veio o desejo do povo de transformar o distrito em munícipio, concretizando com a emancipação em 1988, iniciando daí para frente a História política de Santa Rosa, mas a cultura não foi esquecida, sendo agora organizada pela administração municipal, como as festas juninas, gincanas e festivais, marcando época, muitas delas continuam até hoje, as quais iremos elencar a partir de agora.   
 O Festival Municipal da Canção, o tradicional FEMUC foi criado no início da década de 1990, sendo inicialmente um evento musical, no intuito de revelar novos talentos musicais de Santa Rosa do Sul, que ao passar dos anos foi colocado nas festas de aniversário do munícipio, posteriormente nas festas juninas, sendo definitivamente colocado dentro da programação da Polvilhana em 2005, sendo uma das atrações mais esperados dentro da festa, em 2014 foi realizado a décima primeira edição. 
 Seguindo a mesma linha do FEMUC, o Festival Municipal Escolar da Canção, o FEMEC foi instituído em 2002, fazendo parte da programação da Polvilhana, o festival tem como intuito revelar talentos musicais de crianças e adolescentes que estudam nas escolas de Santa Rosa do Sul, sendo também uma atração bastante esperado dentro da festa, sendo que em 2014 foi realizada a sua sétima edição.
   Criada no inicio dos anos 2000 a Fanfarra Municipal Filhos da Terra foi criada para tocar nos eventos culturais do munícipio, fazer apresentações especiais, e principalmente, animar nos desfiles do dia 07 de setembro, o qual comemora o Dia da Independência do Brasil, tocando o Hino Nacional, fazendo o som da marcha e fazendo a Alvorada Festival, além de se apresentarem em diversas cidades da região.
 Maior festa cultural do munícipio de Santa Rosa do Sul, a Festa do Polvilho e da Banana, carinhosamente chamada de Polvilhana, ocorre desde 2005, sendo feita entre os meses de junho e julho, acontecendo de dois em dois anos, atraindo uma grande multidão vinda de várias partes do estado e do Rio Grande do Sul. Em 2014 foi realizada sua sexta edição.
  O nome da festa faz alusão direta aos dois principais produtos produzidos no munícipio, o polvilho e a banana, é uma homenagem ao agricultor de Santa Rosa do Sul, que com seu suor e trabalho, alavanca a economia do munícipio, além de contar a sua origem e demonstrar a cultura típica do interior catarinense.
  Sendo uma festa que valoriza o trabalho do agricultor e sua cultura, a Polvilhana traz uma série de atrações para todos os públicos, desde exposições temáticas, shows musicais, apresentações folclóricas, concurso da rainha e princesas, festivais de música, noites especiais para o público católico e evangélico, práticas esportivas, brincadeiras que fazem alusão à vida do agricultor e um grandioso desfile temático com carros de boi, máquinas agrícolas, giricos, tobatas e cavalaria, mostrando um pouco da História e da cultura de Santa Rosa do Sul e também da região.
  Lançado em 2012, o livro Santa Rosa do Sul: Raízes, escrito pelo jornalista sombriense Rolando Christian Sant’Helena Coelho, fala sobre a evolução histórica, política e social do munícipio, usando de depoimento de moradores antigos, fotografias antigas e estatísticas, fazendo uma homenagem as pessoas que ajudaram na construção do munícipio o qual conhecemos atualmente.
  O filme Santa Rosa do Sul: Minha Terra, documentário produzido pelo jornalista sombriense Rolando Christian Sant’Helena Coelho foi lançado em 2012 juntamente com o livro Santa Rosa do Sul: Raízes, sendo um complemento do outro, recontando a História do município através de depoimentos de moradores antigos e pessoas que participaram de alguma forma da evolução histórica, social, política e cultural do município de Santa Rosa do Sul.  
   O Festival Escolar da Canção foi criado no ano de 2012, no intuito de classificar os alunos que vão cantar no FEMEC, sendo realizada em cada escola do munícipio, servindo como uma espécie de eliminatória, tendo acontecido em 2014 sua segunda edição.     
  Criado em dezembro de 2013, o Natal Iluminado é um evento que celebra as festividades natalinas do munícipio, conforme os costumes culturais e religiosos presentes em Santa Rosa do Sul, sendo realizado na Praça Frei Raimundo Simonetto, havendo decoração especial, iluminação colorida, cenários temáticos, chegada do Papai Noel e shows de música, teatro e dança, marcando o Natal e o fim de ano do povo sul santarosense, sendo um verdadeiro sucesso a cada nova edição. Em 2014, foi realizada a segunda edição, sendo estendido a programação para a comunidade de Vila São Cristovão e pretende-se estender para outras comunidades do município.
  Inaugurada durante a realização da VI Polvilhana em 2014, a Feira do Agricultor é um espaço construído próximo a rodoviária municipal, que anteriormente era realizada ao lado da Igreja Matriz, onde os pequenos agricultores e artesãos do munícipio podem mostrar e vender seus produtos aos moradores, sendo um espaço que lembra um antigo galpão, servindo como um ponto turístico de Santa Rosa do Sul .
 O Festival Municipal de Folclore foi criado e instituído em agosto de 2014, evento que valoriza as manifestações folclóricas brasileira, catarinense e principalmente, de Santa Rosa do Sul, através de exposições temáticas, apresentação de teatro, dança, música, artes plásticas e artesanato, além da culinária típica do munícipio, sendo uma festa que celebra as antigas tradições do munícipio, no intuito delas se manterem vivas para as próximas gerações.
  Instituído no ano de 2013, o Departamento Municipal de Cultura de Santa Rosa do Sul faz parte da secretária municipal de Educação, Turismo, Esporte e Cultura, criado especificamente para trabalhar com as questões culturais do munícipio, assim como coordenar os eventos, seminários, cursos para capacitar profissionais dessa área, promover e elaborar leis de incentivo a cultura, junto ao Conselho Municipal de Cultura e a Secretária de Educação, Turismo e Esportes.
 Instituído em forma de lei em 2014, sendo feitas as eleições e posse em 2015, o Conselho Municipal de Cultura foi criado para trabalhar com as questões culturais de Santa Rosa do Sul, nos eventos e na formação de leis municipais relacionadas a cultura, havendo participações de membros de vários segmentos culturais da sociedade civil e também do setor administrativo municipal, em reuniões bimestrais que acontecem no auditório da Prefeitura Municipal. 
 Vendo a importância de tantas manifestações que acontecem em nosso munícipio, Santa Rosa do Sul é uma terra rica em cultura desde tempos antigos, elas são organizadas pela administração pública municipal, pelas entidades religiosas, instituições de educação ou mesmo pelas próprias comunidades, enfim, engloba todos os moradores, mesmo sendo um munícipio pequeno, consegue ser forte e ultrapassar a barreira do tempo, c compromisso de cada sul santarosense é manter viva a chama dessa cultura, para que demos continuidade para as próximas gerações, contribuindo cada vez mais na História de nosso munícipio.

Autor. Andrio Cardoso Pereira
Fonte: Diagnóstico Cultural Santa Rosa do Sul (Plano Municipal de Cultural) páginas 217 até 220, 2015. Prefeitura Municipal de Santa Rosa do Sul. 


Grande abraço, FELIZ PÁSCOA, bom fim de semana, até a próxima! 



Nenhum comentário:

Postar um comentário